segunda-feira, 14 de março de 2011

A língua culta padrão e a argumentação


   Para aprendermos sobre a língua culta, necessitamos de conhecimentos gramaticais específicos. Sem esquecer as possibilidades que a variação lingüística oferece - como a linguagem coloquial, regional técnica, por exemplo-, em muitas situações uma boa argumentação depende do domínio da língua culta padrão, especialmente escrita.

  Como o nome indica, esta variedade lingüística segue as normas de uma gramática altamente padronizada, restrita a um número relativamente pequeno de falantes que tiveram o privilégio de adquiri-la, seja por meio de leitura quantitativa e qualitativa, seja pelo esforço sistemático de aprender. Nesse sentido, aprender a norma culta do idioma implica procedimentos semelhantes aos utilizados ao se estudar uma língua estrangeira, idéia muito bem sintetizada pelo eminente gramático Evanildo Bechara quando afirma que o falante de língua materna deve tornar-se um poliglota em seu próprio idioma.

     O padrão culto do idioma, além de ser uma espécie de marca de identidade, constitui recurso imprescindível para uma boa argumentação. Ou seja: em situações em que a norma culta se impõe, transgressões podem desqualificar o conteúdo exposto e até mesmo desacreditar o autor.


     A gramática de um idioma pode ser descrita - e, portanto, estudada - em níveis distintos, mas sempre inter-relacionados, alguns deles a seguir apresentados.
• Nível ortográfico
     Deste fazem parte todos os aspectos relacionados à grafia (abreviaturas, parônimas e homônimas, uso de letras, hífen) e à acentuação das palavras.
• Nível morfossintático
     A morfologia é a parte da gramática que dá conta da forma das palavras, enquanto a sintaxe diz respeito às regras de combinação das palavras e orações de uma língua.
Como ilustração, observemos que na frase "Quantas partes contém esse relatório?" deve ser usada a flexão verbal "contém" (singular), e não sua homônima "contêm" (plural), porque o sujeito é "este relatório", e não "partes". A escolha é sintática, e a conseqüência é morfológica. E mais: a marca da flexão/concordância é gráfica... mas esta já é outra história, que apenas confirma a indissociabilidade entre os diferentes componentes dos proferimentos lingüísticos.

     Para fins didáticos, entretanto, as obras especializadas separam morfologia e sintaxe. A primeira, além da formação, estrutura e flexão das palavras, descreve tudo o que concerne às categorias gramaticais (por exemplo: gênero de substantivos e adjetivos, conjugações verbais), enquanto a sintaxe estuda aspectos mais complexos, como concordância, regência, uso e colocação de pronomes, uso do acento indicativo de crase.
• Nível sintático-semântico
     Em sentido amplo, a semântica trata do sentido das palavras que formam o léxico de uma língua, em todos os seus aspectos, como relações semânticas em geral, semelhanças e diferenças de sentido entre os vocábulos, usos denotativo e conotativo da linguagem.

 

     Mais do que em relação a qualquer outro dos itens de estudo comentados, o enriquecimento do vocabulário - seja pela incorporação de novos vocábulos ao nosso léxico, seja pela transposição das palavras do vocabulário passivo ao ativo - depende sobretudo da vontade e do esforço de cada um.


     A melhor receita para desenvolver a competência semântica é ler, em quantidade e qualidade. Vale também consultar obras especializadas e dicionários para resolver problemas específicos. Cada vocabulário particular compreende um vocabulário ativo, formado pelas lexias que usamos no dia-a-dia, e um vocabulário passivo, constituído por aquelas que reconhecemos semanticamente porém não utilizamos.

Fonte: Níveis de formalidade e estruturas sintática
Profa. Dra. Marisa Magnus Smith
 Faculdade de Letras - PUCRS

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